A
FRATERNIDADE COMO SINAL
54.
As relações entre vida fraterna e atividade apostólica, em
particular nos institutos dedicados às obras de apostolado, não têm
sido sempre claros e não raramente têm provocado tensões tanto
para pessoas em particular, como para a comunidade. Para alguns «o
fazer comunidade» é sentido como um obstáculo para a missão,
quase um perder tempo em questões que, afinal, são secundárias. É
necessário lembrar a todos que a comunhão fraterna, enquanto tal,
já é apostolado, isto é, contribui diretamente para a obra de
evangelização. De fato, o sinal por excelência deixado pelo Senhor
é o da fraternidade vivida: «Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).
Junto
com a missão de pregar o Evangelho a todas as criaturas (Cf. Mt 28,
19-20), o Senhor enviou seus discípulos a viver unidos, «para que o
mundo creia» que Jesus é o enviado do Pai ao quaI se deve dar o
pleno assentimento de fé (Cf. Jo 17, 21). O sinal
da fraternidade é, portanto, de grandíssima importância, porque é
o sinal que mostra a origem divina da mensagem cristã e que tem a
força de abrir os corações à fé. Por isso «toda a fecundidade
da vida religiosa depende da
qualidade da vida fraterna em comum».69
55.
A comunidade religiosa, se e enquanto cultiva em seu seio a vida
fraterna, tem presente, de forma contínua e legível, esse «sinal»
do qual a Igreja tem necessidade sobretudo na tarefa da nova
evangelização.
Também
por isso a Igreja dá tanta importância à vida fraterna das
comunidades religiosas: quanto mais intenso é
o amor fraterno, maior é a credibilidade da mensagem anunciada,
mais perceptível é o coração do mistério da Igreja sacrarnento,
da união dos homens com Deus e dos homens entre si.70 Sem ser o
«tudo» da missão da comunidade religiosa, a vida fraterna é um de
seus elementos essenciais. A vida fraterna é
tão importante quanto a ação apostólica.
Não
se pode, pois, invocar as necessidades do serviço apostólico para
admitir ou justificar uma vida comunitária medíocre. A atividade
dos religiosos deve ser atividade de pessoas que vivem em comum e que
informam de espírito comunitário seu agir, que tendem a difundir o
espírito fraterno com a palavra, a ação e o
exemplo.
Situações
particulares, tratadas a seguir, podem exigir adaptações que, no
entanto, não devem ser tais que impeçam o religioso de viver a
comunhão e o espírito da própria comunidade.
56.
A comunidade religiosa, consciente de suas responsabilidades em
relação à grande fraternidade que é a Igreja, torna-se também um
sinal da possibilidade de viver a fraternidade cristã, como também
do preço que é necessário pagar para a construção de qualquer
forma de vida fraterna.
Além
disso, em meio às diversas sociedades de nosso planeta, marcadas por
paixões e por interesses contrastantes que as dividem, desejosas de
unidade mas incertas sobre os caminhos a seguir, a presença de
comunidades onde se encontram, como irmãos ou irmãs, pessoas de
diferentes idades, línguas e culturas, permanecendo unidas não
obstante os inevitáveis conflitos e dificuldades que uma vida em
comum comporta, é já um sinal que atesta qualquer coisa de mais
elevado que faz olhar mais para o alto.
«As
comunidades religiosas, que anunciam com sua vida a alegria e o valor
humano e sobrenatural da fraternidade cristã, proclamam para nossa
sociedade com a eloqüência dos fatos a força transformadora da Boa
Nova».71
«Mas,
sobretudo, pois, distingui-vos pela caridade, que é o laço
da perfeição» (Cl 3, 14), o amor como
foi ensinado e vivido por Jesus Cristo e nos é comunicado por meio
de seu Espírito. Esse amor que une é o mesmo que impele a
comunicar, também aos outros, a experiência de comunhão com Deus e
com os irmãos. Isto é: gera os apóstolos impulsionando as
comunidades pelo caminho da missão, seja ela contemplativa, seja de
anúncio da Palavra, seja de ministérios de caridade. O amor de Deus
quer invadir o mundo: a comunidade fraterna se torna missionária
desse amor e sinal profético de sua força unificante.
57.
A qualidade da vida fraterna tem também forte influência sobre a
perseverança de cada religioso.
Como
a medíocre qualidade da vida fraterna foi frequentemente apontada
como motivação de não poucas defecções, assim a fraternidade
vivida constituíu e ainda constitui um válido sustentáculo para a
perseverança de muitos.
Numa
comunidade verdadeiramente fraterna, cada um se sente coresponsável
pela fidelidade do outro; cada um dá seu contributo para um clima
sereno de partilha de vida, de compreensão, de
ajuda mútua; cada um está atento aos momentos de cansaço, de
sofrimento, de isolamento, de desmotivação do irmão; cada um
oferece seu apoio a quem está aflito peIas dificuldades e pelas
provações.
Assim
a comunidade religiosa, que sustenta a perseverança de seus
componentes, adquire também a força de sinal da perene fidelidade
de Deus e, portanto, de sustentáculo para a fé e para a fidelidade
dos cristãos, imersos nas vicissitudes deste mundo que, sempre
menos, parece conhecer os caminhos da fidelidade.
fonte: CONGREGAÇÃO
PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA
APOSTÓLICA
A
VIDA FRATERNA EM COMUNIDADE
«Congregavit nos in unum Christi amor »
«Congregavit nos in unum Christi amor »
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