quinta-feira, 14 de maio de 2015

Manual sobre a fé, a esperança e a caridade - Santo Agostinho



Por volta de 421 Agostinho escreveu o Enchiridion de fide, spe et caritate (Manual sobre a fé, a esperança e a caridade) ao seu amigo Lourenço, e apresentou algumas inquietações práticas: quais as verdades que o cristão deve crer e as heresias que precisa evitar?

Em que medida a razão pode intervir a favor da religião? O que foge ao seu alcance? O que deve ocupar o primeiro e o que deve ocupar o último lugar no ensinamento e na vida cristã? Qual o fundamento seguro e autêntico da fé católica (Ench.1.4)?

A virtude não é meta em si mesma, é caminho para a verdadeira felicidade humana que é a visão de Deus (Ench. 1.5). Caminho virtuoso que a razão sozinha não consegue percorrer, mas que iluminada pela Sabedoria divina, assume o compromisso de sustentar o cristão nesta vivência (Ench. 1, 4). Está de acordo com o pensamento agostiniano a distinção entre as virtudes naturais e as assim chamadas virtudes infusas ou teologais. As primeiras são derivadas da experiência e da razão, se referem a um bem finito, às quais o homem pode chegar pelos princípios de sua natureza. As segundas referem-se à felicidade ou a bem-aventurança que excede a natureza do homem, as quais ele pode chegar somente pela graça divina (Ench. 1.4). Chamamos de teologais as virtudes da fé, esperança e caridade porque tem origem no próprio Deus que as infunde (dom absoluto), possuem Deus como objeto e fim, e se referem à sua veneração. Por elas somos ordenados a Ele (Ench. 1.3).

Virtude da Fé Deus amavelmente vem ao encontro do ser humano para salvá-lo e doa a fé para que ele possa aceitar a verdade salvadora. Agostinho salienta o aspecto gratuito da fé, que é dom, é graça, é fruto da bondade de Deus que não abandonou o gênero humano na perdição do pecado, mas que na sua misericórdia propõe a salvação (Ench. 8.27).

Nos escritos de Agostinho o substantivo fé e o verbo crer são utilizados como termos equivalentes. A fé é uma virtude sobrenatural (Ench. 1.6), um dom (Ench. 9.31) através da qual o ser humano, sob a autoridade divina, aceita livremente (Ench. 9.32) a verdade salvadora revelada por Deus em Jesus Cristo (Ench. 1.5). Verdade que vem testemunhada pela Sagrada Escritura e pela Igreja (Ench. 15.56). Crer é assentir à verdade da revelação acolhendo o mistério de Deus (Ench. 7, 20).

Degeneração pelo pecado 

Toda a criatura em si mesma é boa. A bondade de Deus é a causa do bem (Ench. 3.10; 8.23). O mal é privação do bem, é causado pela vontade do homem ferida pelo pecado, vontade de um bem mutável que abandona um bem imutável (Ench. 8.23). Na linguagem do nosso autor o mal é corrupção do bem (Ench. 3.11-12).

O ser enquanto tal é um bem e o mal é corrupção do ser. Deus não é nem direta nem indiretamente causa do mal. Ele é autor da natureza humana que é boa, é autor do homem e não do mal presente neste e por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse poderoso o suficiente para fazer resultar o bem do próprio mal (Ench. 3.11). A verdadeira liberdade interior é alcançada quando conseguimos libertarmo-nos do mal que está dentro de nós.  

Regeneração em Cristo Jesus

No centro da reflexão sobre o pecado, Agostinho apresenta o mistério redentor de Cristo (Ench. 10.33) e, portanto, da graça e da misericórdia divina. Deus na sua justiça poderia abandonar o gênero humano, que por sua vez abandonou os Seus ensinamentos, profanando a imagem do seu Autor. Mas Deus não é só justo, é também misericordioso e faz uso da sua misericórdia liberando quem não merece (Ench. 9.27). Deus se abaixou e exaltou o gênero humano11.

Desde o momento em que o ser humano rompeu o relacionamento primeiro com Deus através do pecado, teve a necessidade de um mediador. Esse é Cristo, Filho de Deus, Deus e homem. Enquanto Adão introduziu o pecado no mundo, Cristo, único mediador, cancelou não só aquele pecado, mas todos aqueles que se lhe acrescentaram. Por isso mesmo que a profissão de fé do cristão contempla a remissão dos pecados. Sem essa remissão não seria possível nenhuma esperança para a vida futura e para a libertação eterna

A Virtude da Caridade

Graças à fé é que podemos amar a Deus no qual acreditamos. É por meio dela que vêem operadas nossas boas obras (Ef 2, 8-9). Fé que age através da caridade (Gl 5, 6) e que não pode existir sem a esperança (Ench. 2.8). As três virtudes estão intimamente unidas, mas é a caridade, segundo o apóstolo Paulo, a exercer a primazia (1Cor 13). Quem não ama crê inutilmente, ainda se o que crê seja verdadeiro. E inutilmente espera, ainda se as coisas que espera dizem respeito à verdadeira felicidade. Mas quem ama retamente, crê e espera retamente.29

A caridade é a realização da vida cristã. Todos os mandamentos divinos a ela fazem referência (Ench. 32.121). Agostinho usa os termos amor e caridade como sinônimos. O amor é força da alma e da vida. É ele que a determina no sentido bom ou ruim, segundo o objeto que se ama. Amor é uma vida que combina o amante e o objeto amado. É movimento, uma inclinação, uma tendência que nos impulsiona a sair de nós mesmos, do nosso mundo em direção ao amado. Daí a importância do amor a Deus, a nós e ao próximo.

São esses os “objetos” que devem ser amados. O amor está no centro da vida cristã e a identifica. Assim como a fé e a esperança, o amor é dom de Deus, que dota a vontade humana de uma aspiração divina. Nosso amor deve ser inspirado pelo amor divino e refletido em nossos atos concretos. Amamos com o amor divino derramado em nossos corações (Rm 5, 5). A salvação depende da fé que opera pela caridade (Gl 5, 6).

E se, ao contrário, opera o mal, se permanece no pecado, é uma fé morta, que não poderá salvá- lo (Tg 2, 14. 17). Não basta ser cristão, é preciso operar o bem.30 Afinal, se Cristo ocupa o lugar central no coração do homem, de modo que nenhum outro fundamento venha anteposto, então ele estará pronto a superar, mesmo com sacrifícios (provado pelo fogo), as obras más (Ench. 18.68) e abraçar uma vida cristã digna desse nome.

Se em Cristo, Deus amavelmente vem ao encontro do ser humano que está nas trevas para redimi-lo, esse deve como resposta, deixar que o amor de Deus possa guiar o seu coração movendo-o ao dom do serviço. Sua vida muda e centraliza-se na caridade. Um amor que não impõe limites, mas estende-se aos inimigos (MT 5,44). Um jeito de amar próprio de quem é filho de Deus e orienta o espírito para essa disposição, graças a uma vida de oração e boas obras (Ench. 19.37).

fonte: http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05.pdf

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Nota: este é um pequeno e humilde resumo de um trabalho sobre o  Enchiridion de fide, spe et caritate; não tem a pretensão de resumir o mesmo e sim, apresentar de uma forma agradável ao leitor do blog, pincelando os principais tópicos.
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Para ler outro livro de Santo Agostinho:

http://portalconservador.com/livros/Santo-Agostinho-Soliloquios-e-A-Vida-Feliz.pdf

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Oração, extraída das Confissões de Santo Agostinho, X Livro, 38.



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