Dom Schneider—Durante o Sínodo houve momentos de manipulação óbvia por parte de alguns clérigos que detinham posições-chave na sua estrutura editorial e de governo. O relatório intermediário (Relatio post disceptationem) foi um texto claramente pré-fabricado, sem nenhuma referência real às verdadeiras declarações dos padres sinodais.
Nos tópicos sobre a homossexualidade, a sexualidade e os “divorciados recasados” com sua admissão aos sacramentos, o texto representa uma ideologia neopagã radical.
Não se tem registro em toda a História da Igreja de um texto tão heterodoxo publicado efetivamente como documento de uma reunião oficial de bispos católicos sob a presidência de um Papa, apesar de o texto revestir-se de caráter preliminar. Graças a Deus e às orações dos fiéis de todo o mundo, um considerável número de Padres Sinodais rejeitou resolutamente tal agenda, que nos três tópicos acima mencionados reflete a principal corrente de moralidade corrompida e pagã do nosso tempo, a qual se funda na ideologia do gênero e está sendo imposta globalmente através de pressão política e da quase todo-poderosa mídia oficial.
Embora apenas preliminar, esse documento sinodal é uma verdadeira vergonha e indica até que ponto o espírito anticristão do mundo já penetrou em níveis importantes da vida da Igreja. Esse documento permanecerá, tanto para as gerações futuras quanto para os historiadores, como uma nódoa com a qual a honra da Sé Apostólica foi manchada. Felizmente, a mensagem dos Padres Sinodais é um documento verdadeiramente católico, que descreve a verdade divina sobre a família sem silenciar as raízes mais profundas dos problemas, ou seja, o pecado. Ela dá muita coragem e consolação às famílias católicas.
Catolicismo—Esses grupos de pessoas que estavam esperando uma mudança no ensino da Igreja com relação às questões morais (por exemplo, permitindo que divorciados e pessoas recasadas recebam a Sagrada Comunhão ou a concessão de qualquer forma de aprovação às uniões homossexuais) provavelmente ficaram decepcionados com o conteúdo da Relatio [Relatório] final.
Não existe, no entanto, o perigo de que o questionamento e a discussão de questões fundamentais no ensinamento da Igreja possam abrir as portas a graves abusos e a tentativas similares de revisão desse ensinamento no futuro?
Dom Schneider—De fato, um mandamento divino — em nosso caso, o sexto mandamento —, a indissolubilidade absoluta do casamento sacramental, uma regra divinamente confirmada como o é a inadmissibilidade de se aceder à Sagrada Comunhão em estado de pecado grave, como ensina São Paulo em sua admoestação inspirada pelo Espírito Santo (1 Coríntios 11, 27-30) não se podem submeter à votação; como nós também, por exemplo, não podemos colocar em votação a Divindade de Cristo.
Uma pessoa que ainda conserve o vínculo matrimonial sacramental indissolúvel e que, apesar disso, vive em convivência marital estável com outra pessoa, por Lei divina não pode ser admitida à Sagrada Comunhão. Seria uma negação pública e prática — embora não teórica — por parte da Igreja da indissolubilidade do matrimônio cristão, e ao mesmo tempo a revogação do sexto mandamento da Lei Deus:“Não adulterarás”.
Nenhuma instituição humana, nem mesmo o Papa ou um Concílio Ecumênico, tem autoridade e competência para invalidar, ainda que de modo mínimo e indireto, um dos Dez Mandamentos divinos ou as palavras divinas de Cristo: “O que Deus uniu, o homem não separe” (Mc. 10, 9).
Este fato é grave em si e representa uma arrogância clerical em relação à verdade divina da Palavra de Deus. A tentativa de colocar em votação a verdade e a palavra divinas é indigna daqueles que, como representantes do Magistério, devem transmitir zelosamente as regras contidas no depósito divino (cf. Mat. 24, 45).
Ao admitir os “divorciados recasados” à Sagrada Comunhão, aqueles bispos estabelecem uma tradição nova e pessoal, transgredindo assim o mandamento de Deus, como os fariseus e os escribas repreendidos por Cristo (cf. Mat. 15, 3). Uma circunstância agravante é o fato de tais bispos tentarem legitimar sua infidelidade à Palavra de Cristo com argumentos tais como “necessidade pastoral”, “misericórdia”, “abertura ao Espírito Santo”.
Pior ainda, eles não têm sequer medo nem escrúpulos de perverter de forma gnóstica o significado real dessas palavras, rotulando ao mesmo tempo de rígidos, escrupulosos ou tradicionalistas aqueles que se opõem a eles e que defendem o mandamento divino imutável e a verdadeira tradição católica.
Durante a grande crise ariana do século IV, os defensores da Divindade do Filho de Deus também foram tachados de “intransigentes” e “tradicionalistas”. Santo Atanásio foi até excomungado pelo Papa Libério, que se justificou com o argumento de que aquele santo não estava em comunhão com os bispos orientais, que na verdade eram em sua maioria hereges ou semi-hereges.
São Basílio Magno, diante daquela situação, afirmou o seguinte: “Apenas um pecado é hoje severamente punido: a observância atenta das tradições de nossos Pais. Por essa razão, os bons são expulsos e exilados ao deserto” (Ep. 243).
Na verdade, os bispos que apoiam a Sagrada Comunhão para “divorciados recasados” são os novos fariseus e escribas, porque negligenciam o mandamento de Deus, contribuindo para o fato de que do corpo e do coração dos “divorciados recasados” continuem a “proceder adultérios” (Mat. 15, 19), porque desejam uma solução exteriormente “limpa”, e que pareça “limpa” também aos olhos daqueles quem detêm o poder (a mídia social, a opinião pública). No entanto, quando eles aparecerem um dia no tribunal de Cristo, ouvirão certamente para sua consternação estas palavras:
“Por que recitas os meus mandamentos, e tens na boca as palavras da minha aliança? Tu que aborreces meus ensinamentos e rejeitas minhas palavras ... e com adúlteros te associas? (Sl 50 (49): 16-18).
Um cardeal que apoiou aberta e rijamente a questão da Comunhão para os “divorciados recasados”, e que fez até mesmo declarações vergonhosas sobre “casais” homossexuais na Relatio preliminar, estava insatisfeito com a Relatio final, e declarou despudoradamente: “O copo está pela metade”,dizendo — ainda que não ao pé da letra — que se deveria trabalhar para que no próximo ano no Sínodo o copo esteja cheio.
Catolicismo—Vivemos hoje um auge de agressão contra a família, agressão esta acompanhada por uma tremenda confusão na área da ciência sobre a identidade humana. Infelizmente, há alguns membros da Hierarquia da Igreja que ao discutirem essas questões, expressam opiniões que contradizem os ensinamentos de Nosso Senhor. Como devemos conversar com as pessoas que se tornam vítimas desta confusão, a fim de fortalecê-las em sua fé e ajudá-las a se salvar?
Dom Schneider—Neste momento extraordinariamente difícil, Cristo está purificando a nossa fé católica para que por meio desta provação a Igreja brilhe mais e seja realmente sal e luz para o insípido mundo neopagão, graças à fidelidade e à fé pura e simples, em primeiro lugar dos fiéis, dos pequeninos na Igreja, da “Ecclesia docta” (a Igreja dos aprendizes), que em nossos dias reforçará a “docens Ecclesia” (a Igreja docente, ou seja, o Magistério), de forma semelhante à grande crise de fé do século IV, como o Beato John Henry Newman relatou: Foi sobretudo por meio dos fiéis que o paganismo foi derrubado; como foi através do povo fiel sob a liderança de Atanásio e dos bispos egípcios, e em alguns lugares apoiados por seus bispos ou sacerdotes, que se resistiu à pior das heresias e que ela foi expulsa do território sagrado. ...
Naquele tempo de imensa confusão, o dogma divino da divindade de Nosso Senhor foi proclamado, aplicado, mantido e (humanamente falando) preservado, muito mais pela ‘Ecclesia docta’ do que pela ‘Ecclesia docens’; o corpo do Episcopado foi infiel a sua missão, enquanto o corpo do laicato foi fiel ao seu batismo; ...
Devemos encorajar os católicos simples a serem fiéis ao Catecismo que aprenderam, a serem fiéis às palavras claras de Cristo no Evangelho, a serem fiéis à fé que seus pais e antepassados lhes legaram.
Devemos organizar círculos de estudos e conferências a respeito do ensino perene da Igreja sobre a questão do casamento e da castidade, convidando especialmente os jovens e os casais.
Devemos mostrar a beleza inerente a uma vida de castidade, a beleza inerente ao matrimônio cristão e à família, o grande valor da Cruz e do sacrifício em nossas vidas. Devemos apresentar cada vez mais os exemplos dos santos e das pessoas exemplares que demonstraram que, apesar de terem sofrido as mesmas tentações da carne, a mesma hostilidade e o desprezo do mundo pagão, no entanto, com a graça de Cristo, levaram uma vida feliz na castidade, no matrimônio cristão e na família. A fé, a fé católica e apostólica, pura e integral, vencerá o mundo (cf. 1 João 5, 4).
fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/52D4CCAD-0B7E-1C4B-6FD978453C680F73/mes/Janeiro2015
Leia também e veja o vídeo: http://mdemisericordia.blogspot.com.br/2014/06/sinodo-sobre-familia-e-sobre-os.html
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