sábado, 29 de setembro de 2012

Resignação... e as demoras de DEUS


Resignação... e as demoras de DEUS:

Nossa Senhora nos ensina como enfrentar aquilo que nos contraria, a aceitar resignadamente a vontade de Deus, sem perder o ânimo nem diminuir o amor a Ele

Para aplicar ao episódio da perda do Menino Jesus no Templo uma frase corriqueira, poderíamos dizer que “as coisas não podiam ser piores”. Pareceria que tal frase em nada é aplicável à Sagrada Família, mas e
la expressa de forma popular o que pensamos quando as contradições e problemas se acumulam sobre nós. Não é só um fato que acontece, mas vários se sobrepõem uns aos outros; e todos, por assim dizer, na direção errada.

Todos tivemos dias em que tudo nos saiu mal. Se temos um compromisso importante — por exemplo, um exame na faculdade —, exatamente nesse dia o despertador não funciona, o ônibus passa antes da hora, está chovendo, etc. Coisas assim acontecem com todos os homens, podendo ser até com certa freqüência. Por que Deus permite dias assim?

Geralmente é para nos ensinar que, não obstante o livre arbítrio que possuímos até o fim da vida, não somos inteiramente independentes, e que apesar das aparências não dominamos tudo nem somos senhores absolutos de nossa vida. Esta é uma forma amorosa de Deus agir a fim de voltarmo-nos para Ele e pedir ajuda.

A VONTADE DE DEUS E A NOSSA : Sendo o homem uma criatura racional, para ele é coisa difícil aceitar o que é contrário à sua vontade. Nossa sensibilidade faz com que desejemos algo com veemência, mas não é nossa vontade a rainha dos acontecimentos. Pelo contrário, no Pai Nosso rezamos todos os dias “seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu”. E muitas vezes a vontade de Deus é uma, e a nossa outra. Até por motivos que podem ser lícitos.

Um pai pode querer ganhar mais dinheiro para manter melhor sua família, mas Deus pode ter outro desígnio, desejando para ele uma cruz cujas vantagens se mostrarão em certo momento. E é justamente para nos educar nesta matéria que temos a virtude da resignação, ou seja, a capacidade de aceitar as adversidades da vida. Muitas pessoas são capazes de grandes esforços, mas, quando chega a hora da resignação, suportam mal a contrariedade; e infelizmente, muitas vezes, de forma até revoltada.

Em geral, as pessoas que têm grande dinamismo, grande personalidade ou capacidade de liderança, se não têm inteira submissão a Deus, encontram especial dificuldade em praticar esta virtude. Mas Nossa Senhora, que é um modelo de personalidade, de decisão e determinação, nos ensina como fazê-lo. A PERDA DO MENINO JESUS : A Sagrada Escritura nada fala da vida de Nosso Senhor no período entre sua volta do Egito para Nazaré e o episódio da perda no Templo, e isso indica uma certa continuidade na sua santa vida.

Não é que não realizasse maravilhas, pois Ele era Deus, mas indica que havia um comportamento que não variava. Certamente Ele era obediente, ajudava seus pais e os consolava. Como todos os anos, a Sagrada Família ia ao Templo de Jerusalém para a celebração da Páscoa. Isso requeria vários dias, pois a distância é de uns 105 quilômetros.

Segundo o costume da época, os homens viajavam na frente e na retaguarda, para proteger a caravana; as mulheres, crianças e pessoas não aptas para a defesa viajavam no meio. Naquela época, a maioridade das pessoas era aos 20 anos. As pessoas entre 12 e 20 anos tinham um estatuto intermediário entre criança e homem. Os jovens poderiam ir com os homens, na frente da caravana, ou com as mães no centro, de acordo com as necessidades.

Jesus Cristo, que tinha 12 anos, podia estar com São José ou com sua Santíssima Mãe, ao voltar de Jerusalém. Cada um deles, na sua humildade, certamente pensava que Ele estaria com o outro. Para São José, era evidente que o Menino Deus estaria com sua Mãe. Entretanto, para Ela, fazia sentido que o Menino Jesus, tendo chegado a uma idade conveniente, pudesse mostrar sua maturidade indo com seu pai. Ao chegar ao ponto de descanso, São José e Maria Santíssima constatam que Ele não estava na caravana.

A surpresa deve ter sido atroz. Sabendo que Ele era Deus, a primeira coisa em que pensariam: “Se Ele nos deixou, é porque não O merecemos”. Suponho que a perplexidade deles tenha sido completa e inesperada. Por que não avisou? Por que não disse que ia ficar? Se desejava rezar ou fazer algo, é óbvio que seus pais iriam concordar. Podemos bem imaginar que entrariam também dúvidas terríveis. Sabiam eles que Jesus Cristo ia redimir o gênero humano, mas não sabiam como nem quando. As Sagradas Escrituras indicavam uma morte cruel. Será que Ele permitiu ser raptado e assassinado, para assim cumprir sua vocação? Será que Ele, pelo contrário, antes da Redenção, não se isolaria num local deserto, e nunca mais voltariam a vê-lo? Será que.

No sentido mais literal da palavra, isso é uma contrariedade. Nada poderia ir mais contra os desejos e esperanças da Santa Virgem. E foi nesse momento que Ela nos mostrou como praticar a virtude da resignação. Não ficou sem fazer nada, não se revoltou, não caiu em prantos inúteis ou recriminações injustas. Ao encontrar seu filho, Ela diz que o procuravam “aflitos” (São Lucas 2,48), o que se refere a eles mesmos, mas não forma um juízo sobre a ação realizada por Ele. Eles haviam começado por procurá-lo junto aos seus parentes.

Mas, muito simbolicamente, lá não O encontraram, pois muitas vezes não encontramos Deus onde mais desejaríamos que Ele estivesse. Depois de três dias de busca incessante, O encontraram no Templo, discutindo com os Doutores da Lei. Pareceria que, tendo encontrado o Menino Jesus, acabariam as contrariedades, e com isso a possibilidade de praticar a virtude da resignação. Mas não. Quando perguntaram ao Menino Jesus por que fez isso, Ele respondeu com uma frase cheia de sabedoria, mas de difícil interpretação: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (São Lucas 2,49).

Em seguida a Sagrada Escritura acrescenta que eles não compreenderam o que Ele lhes dissera. Mas aceitaram com amor. Poderiam eles fazer ainda outras perguntas e tentar obter maiores informações, mas não consta que o fizessem. Certamente meditaram o fato, levantaram hipóteses, tiraram conclusões. Sobretudo, para nossa edificação, eles se resignaram a aceitar, sem compreender, a vontade de Deus. Tudo isso na tranqüilidade de consciência, sem perder a vontade e a constância.

Aproveitemos tal fato a fim de pedir a Maria Santíssima sua ajuda para praticarmos essa tão importante virtude, especialmente nos dias de hoje, em que o torvelinho do mundo moderno nos impõe um estilo de vida tão contrário ao que desejaríamos

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